domingo, 22 de dezembro de 2013

Mudança de vida


Já faz algum tempo que estou pra escrever sobre isso.. a minha mudança de vida. 

Para quem não sabe, sou formada em relações internacionais pela ESPM e durante quase toda facu trabalhei em banco (sim isso mesmo)

Esse período da minha vida foi um momento que me enriqueceu muito como pessoa, mas que também foi fundamental para que eu percebesse uma série de outras coisas..

Durante esses anos da minha vida eu decidi fazer tudo. Decidi estagiar, 6 meses depois recebi uma proposta do banco pra efetivação e decidi virar bancária, paralelo a isso decidi que daria aulas de yoga, que queria namorar e ainda por cima que faria o meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sozinha. Já posso adiantar que o romance terminou e que tirei 10 no TCC (alguma coisa tinha que fazer mega bem feito).

Brincadeiras a parte.. A rotina na faculdade era a mais leve. Sempre fui muito focada e durante as aulas eu tentava ao máximo ouvir e questionar tudo o que professor tinha pra dizer porque eu sabia que eu não teria tempo para estudar.

A rotina do banco era um pouco mais cansativa. Quando falava para os outros que trabalhava lá as pessoas sempre me olhavam com aquela carinha de surpresa e diziam que não tinha nada a ver comigo, ou então, que eu era louca..
Acontece que eu entrei lá por um mero acaso, pois a ESPM exige que os alunos tenham um período de experiência profissional para poder se formar. Fui atrás dessa experiência e acabei fazendo isso melhor do que eu pensava. Descobri que eu servia para o negócio e que não era um trabalho tão difícil de ser feito (apesar de muita gente achar dificuldade). Trabalhava na área internacional do banco, Global Banking, e lidava com produtos financeiros que auxiliavam a compra e venda, exportação e importação de commodities (grãos, minério, combustível, etc.).

Foi uma oportunidade muito legal, pois eu tive a chance de experienciar o que as pessoas chamam de mundo real. Sabe o mundo real? Acordar cedo, ir pro trabalho, engolir sapo, respeitar hierarquia, fazer social, politicagem, ter responsabilidades, ganhar o seu dinheiro, autonomia, “liberdade”..  e além disso, o status de trabalhar em banco que muita gente se prende nesse tipo de coisa, inclusive eu me prendi por um tempo...  Faltando dois anos pra me formar ganhava um salário que nunca imaginei que ganharia, mas também passei por coisas que nunca imaginei que iria passar.

Eu costumo dizer que a maior sorte que eu tive foi ter um chefe bacana que apesar de ser meio fora dos padrões, confiou muito no meu potencial e me botou de cara pra pessoas no ambiente corporativo super influentes. A partir desse contato pude visualizar toda a minha carreira corporativa. Eu sabia exatamente o que eles queriam e esperavam de mim e pra levar a minha carreira adiante era apenas uma questão de escolha própria.

Quais eram os prós e os contras dessa escolha? O primeiro ponto era sem duvida a comodidade. É impressionante o que o ser humano faz para manter-se na zona de conforto. Eu comecei a ganhar um salário super bom e me acostumei com uma vida boa sustentada única e exclusivamente por mim.
Grande parte dos meus amigos estão espalhados pelo mundo, então amava a liberdade de poder viajar quando eu quisesse. Nesse período acabei indo pra NY duas vezes, Floripa (perdi as contas), Balneário, Praia do Forte, Peru, França, Alemanha, Italia e Espanha, e o melhor: sem passar vontade alguma.. fiz tudo o que eu queria. 
Isso foi ótimo por um tempo, e pra ser sincera era a única coisa que compensava viver a vida no ambiente corporativo. Eu não quero desmerecer a chance que tive e nem o aprendizado, que foram incríveis e agradeço muito ao universo por isso, mas é um ambiente estressante. Por mais que você não se abale você gasta muita energia se blindando, energia essa que podia ser canalizada para algo super positivo. 
Durante o período que estive lá presenciei funcionários de longa data passarem por depressões profundas, crises de irritablidade, crise do pânico, ataque cardíaco, AVC, obesidade, sedentarismo, conformismo, vitimismo (acabei de inventar, é a mania de se fazer de vitima), vi algumas dessas mesmas pessoas serem demitidas do dia pra noite, depois de anos de rugas e cabelos brancos dedicados ao banco, e o pior: tínhamos que fingir que tudo isso era normal. E na verdade é, faz parte do game..
A gota d’agua foi quando uma mulher perdeu parcialmente os movimentos da face após receber a noticia de quanto seria o bônus de final do ano. Sem contar o que eu tive que aturar de assédio sexual e moral e ainda pra finalizar picuinha, fofoca e intriga de gente mal resolvida e insegura. Por mais que eu conseguisse lidar com esse tipo de situação, isso fez com que eu percebesse que eu teria que viajar MUIIITOOO pra relaxar em floripa e praticar o triplo de yoga para poder manter a energia vibrante. Comecei a me questionar se tudo isso valeria a pena, se compensaria trabalhar 12 meses na espera de 1 mês de desfrute e prazer.

Mesmo tendo essa rotina corrida fazia questão de dedicar algumas horas do dia para aquilo que me desse prazer, e isso foi o sopro que deu asas para manter meu sonho vivo.  E é o que recomendo a todos. Por mais corrida que seja a sua rotina, arrume um tempo para si. Arrume um tempo para respirar, descansar e relaxar e o mais importante: Não se cobre por fazer isso. Por mais que tudo esteja desabando.. pare! Você pode não se dar conta, mas na maioria das vezes as coisas desabam justamente porque deixamos de cuidar de nós
Independente do ambiente que você viva, as pessoas que mais se destacam são aquelas que são saudáveis, que tem uma boa aparência (não esteticamente), mas que transmitem algo de bom. Isso só é possível quando cuidamos de nós. Em todos os lugares, seja no banco ou mundo a fora as pessoas buscam se aproximar e se relacionar com pessoas positivas.



Diferentemente disso, quanto mais pessoas eu conversava, mais problemas eu escutava e mais eu via como elas estavam vivendo de uma maneira negativa, reclamando o tempo todo e de tudo, mas ao mesmo tempo sem fazer nada para mudar a situação. Eu ficava impressionada, porém não surpresa com todos os resultados de pesquisa de satisfação do banco. Os resultados mostravam que as pessoas que trabalhavam ali estavam super infelizes e não consideravam aquele ambiente um lugar mentalmente saudável para estar. A pergunta é: Se estamos infelizes, por que não mudamos?

No mundo real vi que não é tão fácil assim mudar.. Eu mesma que nem tinha muitos deveres reais que me “obrigassem” a me manter naquele trabalho, demorei pra sair e pra tomar a atitude de ir atrás do que fazia sentido para mim. Tinha na minha cabeça que estava “presa” e que não podia ir muito longe por conta da faculdade e que não fazia sentido eu sair do trabalho sendo que eu ainda tinha que me formar, e bem ou mal o banco me ajudou durante esse processo. Eu tinha apenas um argumento que na minha cabeça podia servir de desculpa  e me agarrei nele fortemente, imagina então quem tem filhos, casa, conta, comida, escola, seguro de saúde, etc pra pagar.. Como faz pra ir atrás do sonho e de algo que te toque?
Eu não tenho a resposta direta pra isso, mas posso indicar um ponto de partida. Onde quer que você esteja trabalhando, por mais que não goste e ache isso um saco, mas que por “n” motivos não consegue sair, comece mudando a sua atitude para com o seu trabalho. Ao invés de encarar tudo com a negatividade, comece a encarar com a positividade. Por mais que não seja a vida que você sempre sonhou aquilo faz parte da sua realidade e você depreende bastante energia nesse trabalho. Sem contar que o seu sustento, a sua comida, o seu lazer, tudo é fruto daquela atividade, então levante todos os dias da sua cama sendo agradecido por ter isso.
Segundo, se realmente você sabe que não é isso o que quer, encare o seu trabalho como algo temporário e não arrume mais comodidades e responsabilidades que te façam ficar preso nele, isso inclui principalmente saber utilizar o cartão de crédito. Terceiro, tenha coragem.. comece a pensar nos seus sonhos e desenvolva alternativas para você, pense em coisas que te fariam acordar e dormir feliz. E por ultimo: dê uma chance para si mesmo. Esse é um dos passos mais importantes. Dar uma chance a si significa ser leve o suficiente para se permitir. Permita-se acertar e errar, a vida é feita de dualidade se existe o certo é porque existe o errado e ninguém consegue permanecer em apenas um desses caminhos o tempo todo.

Por não deixar de fazer o que eu amava, eu não era apenas uma bancária, era uma bancária yogi, em meio a toda essa correria ainda praticava e em algumas manhãs dava aulas no parque para conhecidos e amigos.  Esse foi o começo do estalo que faltava na minha vida. Paralelo a isso, com o sucesso do meu TCC surgiram algumas ideias de mestrados fora do país, coisas que para mim pareceram bem interessantes, mas que para seguir em frente teria que abrir mão do conforto e segurança que o banco me proporcionava com o salário e benefícios.
Então um belo dia decidi dar o primeiro passo a favor do que me fazia feliz e escutar mais aquela minha vozinha interior.

Essa voz, que eu chamo "a voz do coração" apontou em todos os sentidos para uma coisa: A vontade de viver. Não podia acreditar que a vida se resumia nessa rotina e que seria isso até os meus 50, 60 anos até esperar a aposentadoria pra descansar. Todo mundo fala em conforto quando você ficar mais velho, mais pra mim a vida estava rolando agora, e quanto mais tempo eu passava sentada na minha cadeira executiva, mais eu sentia a vida passar. Olhava pela janela via um sol maravilhoso, sentia vontade de sair correndo, de ir pra praia, de ficar deitada na grama, de ir almoçar com minha vozinha, de ficar com meu cachorro, de conhecer outros países. Nunca fui uma pessoa reclamona, sempre toquei o barco e fiz tudo, mas no fundo eu sabia que não estava aproveitando o melhor de mim.. eu podia fazer mais e ser mais feliz.

Na decisão de ser feliz faz parte parar de viver a nossa vida em função da expectativa alheia, porque no final das contas nós nunca podemos ter certeza do que os outros esperam de nós. Temos que saber o que nós esperamos de nós mesmos. Onde nós queremos chegar? E o mais importante, temos que dar essa chance a nós mesmos. Temos o direito de ir atrás daquilo que nos faz feliz. Temos o direito de dedicar pelo menos algumas horas do nosso dia a alguma coisa que faz o nosso coração vibrar, que faz o dia valer a pena e que faz a vida valer a pena. Não podemos aceitar a possibilidade de viver a vida no automático, e tampouco de aceitar as pequenas recompensas que esse tipo de caminho trás como se fosse algo real, pois não é.

Existem muitos amigos que falam que pra mim foi fácil, porque eu tinha alternativas, porque eu tinha um sonho, porque eu tenho o yoga, mas na verdade eu acredito que todos nós temos um sonho, e que não deveríamos ter medo de segui-los. As pessoas que dizem que não tem alternativa acabam não tendo mesmo.. Porque elas mesmas na mente e no coração já se limitaram.

Pensando nisso, decidi colocar em prática o discurso e ir atrás das possibilidades que pareciam interessantes para mim. Logo de início encontrei um curso de formação de professores de yoga com uma indiana super tradicional e bem indicada por conhecidos que se formaram com ela e fiquei namorando a possibilidade de largar tudo. Ela demorava um tempo pra responder dizendo se eu seria aprovada ou não, mas no final recebi uma resposta positiva. Agora só o que faltava era a coragem pra abrir mão do conforto, status, dinheiro e me tornar “apenas” uma recém-formada desempregada.

No fim das contas, achei que poderia perder algumas coisas, mas não perdi nada, ganhei. A gente nunca perde quando escuta a si mesmo. O curso de Yoga era em Barcelona, fui com passagem comprada pra ficar de junho a setembro, mas ao conhecer a tal da indiana – que hoje considero como minha guru e me identifico absurdamente –  decidi me jogar sozinha na Índia, lugar onde fiquei de setembro a novembro e acabei por ter a melhor experiência da minha vida.




Eu ainda vou fazer um post falando de como foi cada uma dessas etapas, Barcelona e Índia, não vou escrever sobre isso agora se não vocês não aguentam ler :)




terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Ashtanga Yoga


O principal obstáculo quando iniciamos a prática do Yoga é sem dúvida a mente. Ao passar do tempo, fixamos na nossa mente certas ideias baseadas na nossa memória e em experiência de vida que acabam por criar uma série de condicionamentos.  Além disso, em muitos casos as pessoas começam a prática com muitas expectativas e pouca paciência. 
Muita gente considera que yoga é apenas um exercício corporal (principalmente no ocidente), mas poucas pessoas sabem que o yoga tradicional, que tem a sua base em Patanjali (Yoga Sutras de Patanjali) é constituído por oito princípios. Em sânscrito a palavra oito significa ashta e a palavra anga significa princípios. É por essa razão que nos referimos ao yoga como ashtanga yoga (não confundam com o estilo chamado Ashtanga Vinyasa Yoga desenvolvido no sul da Índia por Sr. K. Pathabi Jois).
O Ashtanga Yoga codificado por Patanjali é por si só completo e tem o objetivo de guiar o praticante através dos níveis físicos para atingir os níveis mais sutis de consciência. Esses oito níveis podem ser entendidos gradualmente. Os primeiros quatro princípios consistem na prática de Hatha Yoga e os ultimos quatro consistem na prática de Raja Yoga.

HATHA YOGA + RAJA YOGA = ASHTANGA YOGA.

E quais são os oito princípios do yoga?

O primeiro princípio é chamado de Yamas, que são preceitos comportamentais que devem ser praticados com consciência pelo aspirante de yoga. A prática constante de Yamas irá desenvolver consciência e hábitos positivos. Os cinco comportamentos são:
1)      Ahimsa: Não-violencia
2)      Satya: Verdade
3)      Brahmacharya: Moderação da energia sexual
4)      Asteya: Honestidade
5)      Aparigraha: Não desejar o que é dos outros

Até agora no blog eu comentei um pouco sobre Ahimsa. Pretendo comentar sobre cada um dos comportamentos mais pra frente J

O segundo princípio do yoga é chamado de Nyama. Os Nyamas são observâncias para o yoga que irão ajudar o praticante a estabelecer uma mente positiva. Os cinco principais Nyamas são:
1)      Saucha: Limpeza
2)      Santosha: Contentamento
3)      Tapas: Austeridade (auto-superação)
4)      Swadhyaya: Auto-estudo
5)      Ishwara Pranidhana: A auto-entrega ao divino. Momento em que nos desapegamos do ego.

A prática correta de Yamas e Nyamas ajudam o aspirante de yoga a desenvolver consciência dos níveis físicos, dos sentidos, emoções, pensamentos e ações. A prática desses dois princípios do yoga é o que proporciona ao praticante a calma e a purificação da mente para que seja possível começar a desenvolver os níveis mais sutis de energia.

O terceiro princípio do yoga consiste na prática das posturas corporais. A prática de Asana proporciona ao yogi uma reeducação corporal que é diretamente refletida na mente. Patanjali define Asana como sendo uma postura firme e confortável “Stiram sukham asanam”. Asanas são importantes, pois quando o corpo físico inicia um processo de desintoxicação tanto emocional quanto físico, isso ajuda o praticante a entrar no caminho espiritual e acessar os níveis mais elevados de consciência da prática. Nos níveis físicos, os Asanas ajudam a melhorar a flexibilidade e a vitalidade do corpo e proporcionam ao praticante a capacidade de sentar por horas de maneira confortável para meditar.
 A partir da prática dos Asanas o corpo e a mente trabalham juntos através da concentração e da captação de prana (energia) que a respiração consciente proporciona.  Cada Asana estimula diferentes tipos de glândulas, nervos, músculos, órgãos e claro, os chakras do corpo. Quando permanecemos em uma posição confortável durante muito tempo nos tornamos capazes de desapegar do nosso corpo físico e entramos em contato com o corpo pranico. É por essa razão que na Índia, mesmo pessoas especiais que possuem limitações corporais, tais como paralisia, podem praticar Asana. O objetivo dos Asanas é conseguir atingir a posição no nível pranico, do contrário se a posição se limita apenas ao nível físico não há qualquer diferença entre praticar yoga ou ginástica artística e acrobacia. Se a pessoa conseguir superar mentalmente as limitações do corpo físico seja com o corpo ou apenas com a visualização, então ela atingiu o objetivo da prática de Asana. Dessa forma, ela pode reproduzir mentalmente através das mentalizações exatamente aquilo que seria performado fisicamente.

O terceiro princípio da prática consiste nos exercícios de respiração. Os Pranayamas não são apenas exercícios para controlar a respiração, mas sim exercícios para que você se torne consciente da sua respiração, e através dela possa expandir o seu prana, a sua energia. Não podemos controlar algo que não somos conscientes. Os Pranayamas promovem o controle da respiração, pois a prática proporciona a consciência da respiração. Nos níveis físicos, os Pranayamas aquecem o corpo e ajudam no processo de desintoxicação e equilíbrio da energia solar e lunar (pingala e ida). Quando nos tornamos consciente do respirar, automaticamente expandimos a nossa energia e nos tornamos conscientes também das nossas emoções e dos efeitos que cada sensação produz no nosso corpo e na nossa mente. Todas as emoções estão diretamente relacionadas com o ritmo respiratório, por tanto uma mente consciente é por si só uma mente calma.

Hoje eu paro por aqui, falei dos primeiros quatro princípios que consistem o que Patanjali chamou de Hatha Yoga.
Hatha representa a energia solar e lunar, que aplicados ao nosso corpo consistem na energia física e mental, razão e emoção, dia e noite, calor e frio.. Todas as práticas de Asanas, Pranayamas, Kriyas, Mudras e Bandhas fazem parte da prática de Hatha Yoga que tem como objetivo manter o equilíbrio corporal físico e mental. Por tanto, independente do tipo de yoga que você praticar, em um dado momento você pratica Hatha J
Nos próximos posts vou falar sobre cada um dos Yamas e Nyamas e depois vou seguir com os quatro últimos princípios do ashtanga yoga.

Pranam