Já faz algum tempo que estou pra
escrever sobre isso.. a minha mudança de vida.
Para quem não sabe, sou formada
em relações internacionais pela ESPM e durante quase toda facu trabalhei em
banco (sim isso mesmo)
Esse período da minha vida foi um
momento que me enriqueceu muito como pessoa, mas que também foi fundamental
para que eu percebesse uma série de outras coisas..
Durante esses anos
da minha vida eu decidi fazer tudo. Decidi estagiar, 6 meses depois recebi uma
proposta do banco pra efetivação e decidi virar bancária, paralelo a isso
decidi que daria aulas de yoga, que queria namorar e ainda por cima que faria o
meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sozinha. Já posso adiantar que o
romance terminou e que tirei 10 no TCC (alguma coisa tinha que fazer mega bem
feito).
Brincadeiras a parte.. A rotina na faculdade era a mais
leve. Sempre fui muito focada e durante as aulas eu tentava ao máximo ouvir e
questionar tudo o que professor tinha pra dizer porque eu sabia que eu não
teria tempo para estudar.
A rotina do banco era um pouco
mais cansativa. Quando falava para os outros que trabalhava lá as pessoas
sempre me olhavam com aquela carinha de surpresa e diziam que não tinha nada a
ver comigo, ou então, que eu era louca..
Acontece que eu entrei lá por um
mero acaso, pois a ESPM exige que os alunos tenham um período de experiência profissional
para poder se formar. Fui atrás dessa experiência e acabei fazendo isso melhor
do que eu pensava. Descobri que eu servia para o negócio e que não era um
trabalho tão difícil de ser feito (apesar de muita gente achar dificuldade).
Trabalhava na área internacional do banco, Global Banking, e lidava com
produtos financeiros que auxiliavam a compra e venda, exportação e importação
de commodities (grãos, minério, combustível, etc.).
Foi uma oportunidade muito legal,
pois eu tive a chance de experienciar o que as pessoas chamam de mundo real.
Sabe o mundo real? Acordar cedo, ir pro trabalho, engolir sapo, respeitar
hierarquia, fazer social, politicagem, ter responsabilidades, ganhar o seu
dinheiro, autonomia, “liberdade”.. e além
disso, o status de trabalhar em banco que muita gente se prende nesse tipo de
coisa, inclusive eu me prendi por um tempo...
Faltando dois anos pra me formar ganhava um salário que nunca imaginei
que ganharia, mas também passei por coisas que nunca imaginei que iria passar.
Eu costumo dizer que a maior
sorte que eu tive foi ter um chefe bacana que apesar de ser meio fora dos
padrões, confiou muito no meu potencial e me botou de cara pra pessoas no
ambiente corporativo super influentes. A partir desse contato pude visualizar
toda a minha carreira corporativa. Eu sabia exatamente o que eles queriam e
esperavam de mim e pra levar a minha carreira adiante era apenas uma questão de
escolha própria.
Quais eram os prós e os contras
dessa escolha? O primeiro ponto era sem duvida a comodidade. É impressionante o
que o ser humano faz para manter-se na zona de conforto. Eu comecei a ganhar um
salário super bom e me acostumei com uma vida boa sustentada única e
exclusivamente por mim.
Grande parte dos meus amigos
estão espalhados pelo mundo, então amava a liberdade de poder viajar quando eu
quisesse. Nesse período acabei indo pra NY duas vezes, Floripa (perdi as
contas), Balneário, Praia do Forte, Peru, França, Alemanha, Italia e Espanha, e
o melhor: sem passar vontade alguma.. fiz tudo o que eu queria.
Isso foi ótimo
por um tempo, e pra ser sincera era a única coisa que compensava viver a vida
no ambiente corporativo. Eu não quero desmerecer a chance que tive e nem o
aprendizado, que foram incríveis e agradeço muito ao universo por isso, mas é
um ambiente estressante. Por mais que você não se abale você gasta muita
energia se blindando, energia essa que podia ser canalizada para algo super
positivo.
Durante o período que estive lá presenciei funcionários de longa
data passarem por depressões profundas, crises de irritablidade, crise do
pânico, ataque cardíaco, AVC, obesidade, sedentarismo, conformismo, vitimismo
(acabei de inventar, é a mania de se fazer de vitima), vi algumas dessas mesmas
pessoas serem demitidas do dia pra noite, depois de anos de rugas e cabelos
brancos dedicados ao banco, e o pior: tínhamos que fingir que tudo isso era
normal. E na verdade é, faz parte do game..
A gota d’agua foi quando uma
mulher perdeu parcialmente os movimentos da face após receber a noticia de
quanto seria o bônus de final do ano. Sem contar o que eu tive que aturar de
assédio sexual e moral e ainda pra finalizar picuinha, fofoca e intriga de gente
mal resolvida e insegura. Por mais que eu conseguisse lidar com esse tipo de
situação, isso fez com que eu percebesse que eu teria que viajar MUIIITOOO pra
relaxar em floripa e praticar o triplo de yoga para poder manter a energia
vibrante. Comecei a me questionar se tudo isso valeria a pena, se compensaria
trabalhar 12 meses na espera de 1 mês de desfrute e prazer.
Mesmo tendo essa rotina corrida
fazia questão de dedicar algumas horas do dia para aquilo que me desse
prazer, e isso foi o sopro que deu asas para manter meu sonho vivo. E é o que recomendo a todos. Por mais corrida
que seja a sua rotina, arrume um tempo para si. Arrume um tempo para respirar,
descansar e relaxar e o mais importante: Não se cobre por fazer isso. Por mais
que tudo esteja desabando.. pare! Você pode não se dar conta, mas na maioria
das vezes as coisas desabam justamente porque deixamos de cuidar de nós.
Independente do ambiente que você viva, as pessoas que mais se destacam são
aquelas que são saudáveis, que tem uma boa aparência (não esteticamente), mas
que transmitem algo de bom. Isso só é possível quando cuidamos de nós. Em todos
os lugares, seja no banco ou mundo a fora as pessoas buscam se aproximar e se
relacionar com pessoas positivas.
Diferentemente disso, quanto mais
pessoas eu conversava, mais problemas eu escutava e mais eu via como elas estavam vivendo de uma maneira negativa, reclamando o tempo todo e de tudo, mas
ao mesmo tempo sem fazer nada para mudar a situação. Eu ficava impressionada,
porém não surpresa com todos os resultados de pesquisa de satisfação do banco. Os resultados mostravam que as pessoas que trabalhavam
ali estavam super infelizes e não consideravam aquele ambiente um lugar
mentalmente saudável para estar. A pergunta é: Se estamos infelizes, por que
não mudamos?
No mundo real vi que não é tão fácil
assim mudar.. Eu mesma que nem tinha muitos deveres reais que me “obrigassem” a
me manter naquele trabalho, demorei pra sair e pra tomar a atitude de ir atrás do
que fazia sentido para mim. Tinha na minha cabeça que estava “presa” e que não podia ir muito longe por conta
da faculdade e que não fazia sentido eu sair do trabalho sendo que eu ainda
tinha que me formar, e bem ou mal o banco me ajudou durante esse processo. Eu
tinha apenas um argumento que na minha cabeça podia servir de desculpa e me agarrei nele fortemente, imagina então quem tem filhos, casa,
conta, comida, escola, seguro de saúde, etc pra pagar.. Como faz pra ir atrás do
sonho e de algo que te toque?
Eu não tenho a resposta direta pra isso,
mas posso indicar um ponto de partida. Onde quer que você esteja trabalhando,
por mais que não goste e ache isso um saco, mas que por “n” motivos não
consegue sair, comece mudando a sua atitude para com o seu trabalho. Ao invés
de encarar tudo com a negatividade, comece a encarar com a positividade. Por
mais que não seja a vida que você sempre sonhou aquilo faz parte da sua
realidade e você depreende bastante energia nesse trabalho. Sem contar que o
seu sustento, a sua comida, o seu lazer, tudo é fruto daquela atividade, então
levante todos os dias da sua cama sendo agradecido por ter isso.
Segundo, se realmente você sabe
que não é isso o que quer, encare o seu trabalho como algo temporário e não
arrume mais comodidades e responsabilidades que te façam ficar preso nele, isso inclui principalmente saber utilizar o cartão de crédito.
Terceiro, tenha coragem.. comece a pensar nos seus sonhos e desenvolva
alternativas para você, pense em coisas que te fariam acordar e dormir feliz. E
por ultimo: dê uma chance para si mesmo. Esse é um dos passos mais importantes.
Dar uma chance a si significa ser leve o suficiente para se permitir.
Permita-se acertar e errar, a vida é feita de dualidade se existe o certo é
porque existe o errado e ninguém consegue permanecer em apenas um desses
caminhos o tempo todo.
Por não deixar de fazer o que eu
amava, eu não era apenas uma bancária, era uma bancária yogi, em meio a toda
essa correria ainda praticava e em algumas manhãs dava aulas no parque para
conhecidos e amigos. Esse foi o começo
do estalo que faltava na minha vida. Paralelo a isso, com o sucesso do meu TCC
surgiram algumas ideias de mestrados fora do país, coisas que para mim
pareceram bem interessantes, mas que para seguir em frente teria que abrir mão
do conforto e segurança que o banco me proporcionava com o salário e
benefícios.
Então um belo dia decidi dar o
primeiro passo a favor do que me fazia feliz e escutar mais aquela minha
vozinha interior.
Essa voz, que eu chamo "a voz do
coração" apontou em todos os sentidos para uma coisa: A vontade de viver. Não
podia acreditar que a vida se resumia nessa rotina e que seria isso até os meus
50, 60 anos até esperar a aposentadoria pra descansar. Todo mundo fala em
conforto quando você ficar mais velho, mais pra mim a vida estava rolando
agora, e quanto mais tempo eu passava sentada na minha cadeira executiva, mais
eu sentia a vida passar. Olhava pela janela via um sol maravilhoso, sentia
vontade de sair correndo, de ir pra praia, de ficar deitada na grama, de ir
almoçar com minha vozinha, de ficar com meu cachorro, de conhecer outros
países. Nunca fui uma pessoa reclamona, sempre toquei o barco e fiz tudo, mas
no fundo eu sabia que não estava aproveitando o melhor de mim.. eu podia fazer
mais e ser mais feliz.
Na decisão de ser feliz faz parte
parar de viver a nossa vida em função da expectativa alheia, porque no final
das contas nós nunca podemos ter certeza do que os outros esperam de nós. Temos
que saber o que nós esperamos de nós mesmos. Onde nós queremos chegar? E o mais
importante, temos que dar essa chance a nós mesmos. Temos o direito de ir atrás
daquilo que nos faz feliz. Temos o direito de dedicar pelo menos algumas horas
do nosso dia a alguma coisa que faz o nosso coração vibrar, que faz o dia valer
a pena e que faz a vida valer a pena. Não podemos aceitar a possibilidade de
viver a vida no automático, e tampouco de aceitar as pequenas recompensas que
esse tipo de caminho trás como se fosse algo real, pois não é.
Existem muitos amigos que falam
que pra mim foi fácil, porque eu tinha alternativas, porque eu tinha um sonho,
porque eu tenho o yoga, mas na verdade eu acredito que todos nós temos um
sonho, e que não deveríamos ter medo de segui-los. As pessoas que dizem que não
tem alternativa acabam não tendo mesmo.. Porque elas mesmas na mente e no
coração já se limitaram.
Pensando nisso, decidi colocar em prática o
discurso e ir atrás das possibilidades que pareciam interessantes para mim. Logo
de início encontrei um curso de formação de professores de yoga com uma indiana
super tradicional e bem indicada por conhecidos que se formaram com ela e
fiquei namorando a possibilidade de largar tudo. Ela demorava um
tempo pra responder dizendo se eu seria aprovada ou não, mas
no final recebi uma resposta positiva. Agora só o que faltava era a coragem pra
abrir mão do conforto, status, dinheiro e me tornar “apenas” uma recém-formada
desempregada.
No fim das contas, achei que
poderia perder algumas coisas, mas não perdi nada, ganhei. A gente nunca perde
quando escuta a si mesmo. O curso de Yoga era em Barcelona, fui com passagem
comprada pra ficar de junho a setembro, mas ao conhecer a tal da indiana – que
hoje considero como minha guru e me identifico absurdamente – decidi me jogar sozinha na Índia, lugar onde
fiquei de setembro a novembro e acabei por ter a melhor experiência da minha
vida.
Eu ainda vou fazer um post
falando de como foi cada uma dessas etapas, Barcelona e Índia, não vou escrever
sobre isso agora se não vocês não aguentam ler :)
Oi Camilla, você é um pontinho de luz que brilha intensamente cada vez que divide alguma experiência com fotos ou textos inspiradores como este! Vi teu instagram por acaso, a princípio por conta das fotos dos teus ásanas lindamente executados. Hoje, acompanho com carinho cada post lá e agora aqui no blog.
ResponderExcluirEmbora tenha pouca experiência da prática e pouquíssimo conhecimento filosófico, o yoga pra mim é algo fascinante e me sinto mais próxima quando acompanho pessoas como você, que transmitem tanta verdade e paixão pelo que se dedicam... gratidão por isso!
Ainda mais luz pra você! muito amor!!
Oi, Camilla! Muito inspiradora sua história. :) Qual linha de yoga você pratica?
ResponderExcluirAdoreeiii! Inspirador
ResponderExcluirOii, Camilla! Tudo bem?
ResponderExcluirPrimeiramente, parabéns pelo post. É o mais inspirador que já li! =]
Se possível, vc poderia me passar seu e-mail? Gostaria de compartilhar uma experiência pessoal - muito semelhante à relatada no post - com vc!
Bjsss
Camila, que linda história! Sou bancária e me identifiquei muito com o seu texto, principalmente sobre a necessidade da mudança, mas como você bem citou, ainda estou um pouco "sem caminho"... Espero me encontrar logo! Um grande beijo e muita sorte!
ResponderExcluirQuerida, muito grata.
ResponderExcluirEstava precisando ler isso. ;)
Muitos beijos,
Nina.
Namastê! Acho que a definição "potinho de luz" é realmente muito adequada para alguém que consegue escrever um texto como o seu. Grata pelo universo ter me feito chegar até seu IG e até seu blog ��
ResponderExcluirboa tarde
ResponderExcluirTe vi no Sabe ou Não Sabe, parabéns pelo trabalho, sucesso hoje e sempre.